As observações de fenômenos magnéticos naturais são muito antigas. Entre elas relatam-se com frequência as realizadas pelos gregos em uma região da Ásia conhecida por Magnésia, embora haja indícios de que os chineses já conheciam o fenômeno há muito mais tempo: no início da era cristã os adivinhos chineses já utilizavam um precursor da bússola, uma colher feita de magnetita que, colocada em equilíbrio sobre um ponto de apoio central, podia mover-se livremente.
No campo da medicina, o trabalho clínico empregando o magnetismo iniciou-se por volta de 1766 com o médico alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815), que acabou sendo vítima de calúnias e difamações, apesar de ter usado o método experimental em suas pesquisas.
Eis que o magnetismo volta às manchetes agora, através do trabalho de cientistas franceses que usaram uma técnica chamada estimulação magnética transcraniana para melhorar a visão de pessoas saudáveis.
Segundo os pesquisadores, depois da estimulação magnética de uma área no hemisfério direito do cérebro, envolvida na percepção e na orientação espacial, os voluntários apresentaram uma maior capacidade de detectar alvos que apareciam em uma tela de computador.
Antoni Valero-Cabré e seus colegas do instituto CNRS descobriram uma área do cérebro que dá bons resultados no aprimoramento da visão: o campo visual frontal. A região não é propriamente a área primária da visão, mas ela participa no planejamento dos movimentos oculares e na orientação da atenção que damos ao espaço visual. Usando pulsos magnéticos com duração entre 80 e 140 milissegundos, a sensibilidade visual dos participantes melhorou em até 12%.
Esta descoberta, cujos resultados foram publicados na revista científica Plos One, abre o caminho para o desenvolvimento de novas técnicas de reabilitação para algumas desordens visuais, além da possibilidade de melhorar o desempenho visual de pessoas saudáveis cujas tarefas exijam grande precisão.
Nos primórdios da descoberta do magnetismo, Mesmer fazia uso de alguns instrumentos. A estimulação magnética transcraniana consiste na aplicação de pulsos magnéticos em uma determinada área do cérebro. O magnetismo força a ativação dos neurônios corticais localizados dentro da área de alcance do campo magnético aplicado. Assim, a atividade neuronal é modificada de forma controlada, indolor e temporária.
Há vários anos, teses e debates acadêmicos estão sendo dedicados à questão do uso do magnetismo, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, onde pesquisadores vêm tentando aprimorar a técnica para sua utilização terapêutica, bem como para melhorar determinadas funções cerebrais em pessoas saudáveis. Recentemente, uma pesquisa descobriu que uma técnica similar, baseada em eletricidade, pode aumentar a capacidade de aprendizado.
O fato dos pesquisadores serem franceses dá contornos curiosos a esta notícia, pois foi justamente o corporativismo dos médicos parisienses, defendendo a tendência mecanicista da medicina do século 18, um dos fatores determinantes no contexto em que Mesmer esteve envolvido durante a defesa do magnetismo, notadamente no período em que o médico alemão viveu em Paris.
(Fonte: Diário da Saúde)