Mais de dois anos depois, a tragédia que marcou diversas famílias da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, quando centenas de pessoas faleceram em um incêndio numa boate, ainda gera dúvidas entre alguns leitores do Saúde Visual, que enviaram perguntas relativas ao efeito da fumaça tóxica nos olhos. A principal dúvida destes leitores é se os olhos sofrem com a fumaça de incêndios e se isso poderia, então afetar a visão, atrapalhando ainda mais a fuga do local.
A inalação das substâncias emitidas no incêndio causaram 90% das mortes na boate Kiss. Segundo especialistas, a aspiração de monóxido de carbono em ambiente fechado impede a troca de oxigênio no organismo. O processo é acelerado quando o material em combustão é derivado de petróleo, como é o caso do isopor. Para que que haja uma morte em decorrência de uma asfixia, como aconteceu em Santa Maria, são necessários pelo menos dez minutos de exposição à fumaça tóxica.
Neste período ocorrem três fases de contaminação que, somadas, levam à morte. A primeira é uma lesão térmica do sistema respiratório. A segunda é a diminuição do nível de oxigênio no ar e, consequentemente, o começo da morte de células no cérebro. A terceira etapa é o contato com o monóxido de carbono que afetará as hemácias (células do sangue).
Com relação aos olhos, a fumaça tóxica pode provocar vermelhidão e irritação. Portanto, em um ambiente de caos, sem dúvida isto irá incomodar bastante, apesar de não ser um fator determinante para a proporção da tragédia. Se com os adultos os efeitos podem ser devastadores, com crianças e idosos não é diferente. Eles sentem os mesmos sintomas, porém com maior intensidade devido a tanto falta de maturidade total dos órgãos ( nas crianças) quanto a seu enfraquecimento (no caso dos mais velhos). De qualquer forma, é recomendado lavar os olhos da vítima imediatamente com água em abundância por 10 a 15 minutos.
Porém, é importante aproveitar este momento para alertar que fumaça tóxica não é apenas aquela produzida por um incêndio. Existe uma onipresente em nosso cotidiano e que representa um sério risco para os olhos: a fumaça produzida pelo cigarro que costuma ter mais 4.000 componentes químicos ativos, sendo a maior parte deles tóxicas.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mostram que, além das doenças respiratórias, cardiovasculares e cancerígenas, o tabaco também pode ser o grande responsável pelo surgimento de doenças oculares, como a degeneração macular relacionada à idade e as oclusões vasculares. Já com relação à fumaça, uma pesquisa realizada na Austrália identificou efeitos adversos sobre o filme lacrimal precorneal e uma forte associação entre tabagismo e instabilidade do filme lacrimal.
Além disso, o chamado fumante passivo também pode apresentar quadros de hiperemia, lacrimejamento excessivo e olho seco. Ou seja, uma fumaça que poucos dão atenção, mas que também guarda sua porção trágica.
(Fontes: Optometric Physician, OMS e Anfarmag)