Uma das cenas mais emblemáticas do filme “Ray” (2004), que conta a vida do cantor e pianista Ray Charles, é quando ele ainda menino e pouco tempo depois de perder a visão, tropeça numa cadeira e cai. Assustado, pede socorro, mas a mãe, que da cozinha assistia a tudo, refreia o impulso de ajudá-lo e resolve observar para saber se o garoto consegue lidar com sua nova condição.
Este dilema é muito comum aos pais e mães de crianças e adolescentes com alguma deficiência sensorial ou motora. Para os psicólogos, a criança com deficiência precisa de estimulação e de recursos que facilitem sua vida, mas tem que aprender a conviver com o mundo com naturalidade.
Acontece que, na prática, isso nem sempre funciona e não é difícil encontrar pais que protegem seus filhos com deficiência além do que seria recomendado. Esta superproteção faz com que a criança tenha uma autoimagem de fragilidade, impede-a de conhecer seus recursos e cria dificuldade para lidar com a frustração.
Por outro lado, a negação funciona como um avesso da superproteção. É quando os pais fingem que está tudo normal e, com isso, não conseguem atender às necessidades específicas da criança.
Os especialistas são categóricos e unânimes ao afirmar que incentivar que o filho deficiente supere seus limites é o mais correto a se faze, sem poupá-lo de frustrações e nem agir de forma a atenuar os obstáculos que, devido à deficiência, são mais difíceis para ele do que para os demais. Assim, a criança cresce em relativa igualdade com seus pares.
(Fonte: Caderno Equilíbrio, Folha de São Paulo)