Endorressecção, vitrectomia, vitriófago. Palavras complicadas, mas que encerram uma nova esperança para quem sofre de melanoma de coroide, o câncer de olho mais frequente e que ataca mais aos adultos que às crianças. Alguns hospitais oferecem como opção de tratamento a braquiterapia, método que utiliza radiação para matar o tumor com placas de rutênio ou de iodo (sementes radioativas).
É aqui que entra a endorressecção, um novo método de tratamento para o melanoma de coroide, tipo de câncer intraocular que não responde à quimioterapia. Este novo método possibilita a retirada do tumor e promete preservar o olho e a visão.
No Brasil, a maioria desses casos é tratada retirando o tumor junto com o globo ocular, procedimento conhecido como enucleação. Para dar volume, coloca-se uma prótese esférica e outra estética que imita o olho.
A nova cirurgia usa a técnica chamada de vitrectomia, que remove o vítreo (fluído gelatinoso que preenche o interior do globo ocular). Usando pinças especiais, a retina é descolada para que seja possível acessar o tumor. Um aparelho chamado vitriófago irá cortá-lo e sugá-lo ao mesmo tempo. A cirurgia demora de duas a quatro horas.
Segundo o oftalmologista Rubens Belfort Neto, responsável pelo ambulatório de oncologia oftálmica do Hospital São Paulo ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e que está realizando este tratamento inédito no Brasil, os primeiros resultados foram promissores, pois todos os 11 pacientes operados no último ano tiveram os olhos e a visão preservados e nenhum sinal de recidiva do tumor.
Apesar do otimismo e confiança de que estes bons resultados serão mantidos, o Dr. Belfort, que também é o responsável pelos primeiros artigos sobre a cirurgia para publicação, acredita ser preciso mais tempo e um maior número de pessoas operadas para que a nova técnica se mostre realmente eficaz e segura.
Esta preocupação tem a ver com o fato de que metade dos operados do melanoma de coroide desenvolve metástases em até 15 anos após a cirurgia (tanto na retirada do olho quanto na braquiterapia). A hipótese é que as células tumorais migrem pela corrente sanguínea até o fígado (ou o pulmão) e lá encontrem ambiente propício para a proliferação.
(Fonte: Folha de São Paulo)