Videogame para cegos: dá Hadouken, Ryu!

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Quem gosta de videogames conhece o clássico Street Figther e um de seus lutadores, o Ryu, com seu famoso Hadouken. Mas o que muitos fanáticos por jogos eletrônicos não sabe é que Ryu aplica seu golpe fatal também para os deficientes visuais. Sim, cegos jogam videogame que, além de divertir, ajuda o deficiente visual a aguçar seus sentidos!

O "Street Fighter II: Imagination Sound Game" da Bandai é uma espécie de portátil em que se joga apenas pelos sons - e com a força da imaginação de quem está jogando. Se o jogador escolher o já mencionado Ryu, ele poderá fazer o “quarto de lua para frente" mais o botão de soco, o que resultará no Hadouken. O aparelho tem um direcional, um botão de soco e um de chute, e quando os comandos são dados, o aparelho emite o som do golpe e o dano causado. Dependendo deste dano, aliás, um narrador anuncia a vitória ou a derrota. Depois de três lutas, tem até o round bônus com direito ao som do carro quebrando e tudo que um bom gamer tem direito.

Também na área de videogames para cegos, a Universidade de Nevada, em Reno, nos EUA, desenvolveu um software de jogos para crianças com deficiência visual batizado de VI Fit. Trata-se de uma adaptação de jogos populares do Nintendo Wii Sports desenvolvida pelo departamento de engenharia e ciência da computação para ajudar crianças que não enxergam a se exercitarem e, assim, manter a saúde através dos videogames. O sistema oferece jogos como tênis e boliche baseados na sensibilidade de movimentos. Os dois jogos são os primeiros de uma série que está em processo de desenvolvimento.

Eelke Folmer, líder da equipe de pesquisa do sistema, disse que "a falta de visão constitui uma barreira significativa para a participação em atividade física e, consequentemente, crianças com deficiências visuais costumam ter taxas altas de obesidade e doenças relacionadas a ela, como por exemplo o diabetes". Para jogar é preciso ter a posse de um videogame Wii e o controle especial, que não é muito caro. O jogo de tênis foi testado em 13 crianças com deficiência visual e a avaliação dos resultados demonstrou altos níveis de gasto de energia ativa, o que é um benefício à saúde. Enquanto que, no jogo de boliche, os níveis de gasto energético mostraram ser os mesmos de uma caminhada.

Mas se você está surpreso sobre a existência de videogames para cegos, saiba que um grupo de jovens de Brasília também entrou neste segmento por acreditar que os jogos que existem hoje não satisfazem os anseios dos deficientes visuais na questão da acessibilidade.

Batizado de "Herocopter" o jogo, desenvolvido pela IDevelop, é um simulador de helicóptero. Quem pilota deve resgatar o maior número de pessoas em seis fases diferentes durante um tsunami, um terremoto ou um furacão. Há um copiloto que diz (por enquanto, só em inglês) onde estão as pessoas que o jogador deve resgatar. Para jogar, basta ter o programa instalado no computador, um fone de ouvido e um sensor de movimentos.

Um dos criadores do jogo é Juliano César Ribeiro, analista de tecnologia, cego desde bebê por conta de um erro médico. Interessado por títulos de aventura como Resident evil e Battle field, ele teve de deixar de lado as tramas mais complicadas e jogar apenas as que não exigiam tanto da visão. “Fico perdido num jogo convencional, e os audiogames não acompanham a evolução do mercado”, confessa Juliano.

Em 2011, em um curso do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Juliano pôde dividir essa frustração com um grupo de pessoas dispostas a mudar este quadro. Seu professor, o empresário Bruno Kenj, sócio-fundador da IDevelop, procurava uma ideia original para participar de uma competição internacional e viu na dificuldade de Juliano uma oportunidade de contribuir com algo novo. Depois de oito meses de trabalho, nasceu o Herocopter, um game para computador criado especialmente para deficientes visuais, utilizando o controle Kinect.

Para quem não sabe, o Kinect é um acessório do videogame Xbox que detecta gestos. Para Bruno Kenj, o Kinect estimula a coordenação motora e determinados exercícios já que o helicóptero do jogo é controlado por meio dos movimentos do corpo do jogador.

Bruno também explicou que a novidade deste projeto fica por conta do áudio do jogo, que é em 3D, com noção de profundidade, o que permite que cegos entendam onde estão os obstáculos e as metas. “É um sensor de movimento que capta áudio também. É um aparelho de custo baixo pelo desempenho que ele promove”, diz ele que pretende que “Herocopter” seja distribuído na internet. A ideia é comercializar por download, usando a plataforma Xbox Live, da Microsoft.

O jogo ainda está sendo traduzido para o português e não está no mercado porque precisa de patrocínio para ser lançado. Hadouken!

 

 

(Fonte: Folha de São Paulo)