A imprensa dos Estados Unidos descobriu uma prática nada honesta: segundo o jornal New York Post, tornou-se comum nos parques da Disney visitantes ricos contratarem deficientes físicos para fingirem ser membros da família e, assim, passar na frente das filas que, em alguns casos, levam mais de duas horas.
A denúncia partiu da antropóloga Wednesday Martin, que teria descoberto o esquema durante uma pesquisa. Segundo ela, as famílias pagam em média 130 dólares por hora pela companhia do parente falso. Existe também a opção de contratá-lo por 1.040 dólares por uma jornada de oito horas.
Segundo o New York Post, uma das mães admitiu que a filha dela esperou um minuto para entrar enquanto as outras crianças tiveram que esperar duas horas e meia. Esta prática, de acordo com a antropóloga que fez a denúncia, é adotada por cerca de 1% das famílias que vão ao parque.
Através de sua assessoria de imprensa, a Disney confirmou permitir que cada hóspede deficiente, acompanhado de até seis pessoas, tenha acesso às atrações de seus parques por uma entrada específica e mais conveniente. A própria Disney oferece um serviço VIP de “passes-rápidos” que custam de 310 a 380 dólares por hora. E classificou a prática de se contratar deficientes como inaceitável, garantindo que tomará as medidas necessárias para coibi-la.
No Brasil, a Lei Federal 10048/00 e o Decreto de Regulamentação 5296/04 garantem filas de atendimento preferencial e prioritário para idosos, gestantes e deficientes – não importa qual seja esta deficiência. Acontece que, como a maioria das placas que sinalizam a aplicação da Lei apresentam as figuras de um idoso, de um cadeirante e de uma grávida e o texto fala em “deficientes”, muitos acham que somente cadeirantes podem usufruir deste direito. Conforme Paula Pfeifer, deficiente auditiva, registrou em seu blog “Crônicas da surdez”, no “imaginário coletivo” as pessoas acham que “surdos, cegos, etc não saem de casa, não vão ao banco, ao mercado...”. E coloca em dúvida se os gerentes dos estabelecimentos comerciais conhecem a legislação “na ponta da língua” para defender o direito das pessoas com alguma deficiência que não seja visível a olho nu, como a surdez e a baixa visão, por exemplo.
A preocupação de Paula faz sentido. O presidente da Associação dos deficientes visuais de Toledo (AdvT), Lucildo Teodoro, afirma que o desrespeito às pessoas cegas ou com baixa visão ainda é muito comum neste município do Paraná conhecido e elogiado pela inexistência de menores de rua, devido a eficiência de seus programas sociais. Segundo Teodoro, muitos acreditam que “os cegos ou aqueles que têm baixa visão se prevalecem das situações”.
Assim, entre ter que ficar dando satisfações a respeito de sua deficiência para estranhos e ir direto pra fila normal sem ser importunada, toda pessoa com uma “deficiência invisível” - aquela que ninguém nota, aquela difícil de ser explicada, aquela que não causa pena aos olhos de quem vê, nas palavras de Paula Pfeifer -, prefere a segunda opção.
(Fontes: New York Post, Crônicas da surdez e Jornal do Oeste)