Ariel é uma jovem como tantas outras de sua idade: vive conectada em seu smartphone. Ou em seu tablet. Ou, ainda, em seu notebook.
Não há nenhum estudo científico comprovando que os computadores sejam prejudiciais aos olhos. Porém, uma variedade de sintomas como dor de cabeça, ardor, lacrimejamento, visão embaçada, podem ocorrer após o uso excessivo do computador. Este conjunto de sintomas ganhou o nome de ‘síndrome de visão do computador que, entretanto, não se trata de um problema ocular específico.
Ariel também estuda bastante e lê muito. Mas sabemos que o esforço visual não é prejudicial ao olho. Costuma ocorrer o contrário, ou seja, quanto mais se lê, mais facilmente o cérebro interpreta o conteúdo da leitura. Afinal, os olhos foram feitos para ver e ler então não se trata de “ler demais”, e sim ler por muitas horas seguidas. Ler por muito tempo sem parar pode causar cansaço visual, mas não é o excesso de leitura que causa a “vista cansada”, por exemplo.
Então, que raios de cefaleia era aquela que a perseguia tanto? Não fazia muito tempo que ela fizera exames e até trocara de óculos, por conta de sua miopia. Quem sabe sua dor de cabeça estava sendo causada pelo estresse com provas do colégio, do ensino técnico, o Enem, o vestibular... O jeito foi retornar à oftalmologista, pois Saúde Visual sempre diz que é importante procurar o especialista.
E foi assim que Ariel descobriu que a causa de sua cefaleia está em uma exoforia. Pausa para explicarmos melhor o que seria isso. Todos conhecem o estrabismo, quando há perda do paralelismo entre os olhos. Ele pode se apresentar de três maneiras: constante, quando o desvio de um dos olhos é permanentemente observado; intermitentes, quando ora os olhos estão alinhados e ora há desvio, sendo mais frequente nos estrabismos divergentes e, por fim, os latentes, que só são verificados com exame de motilidade ocular.
Um dos tipos mais comuns de estrabismo é a exotropia, também chamada de estrabismo divergente. É o desalinhamento ocular no qual um dos olhos se desvia lateralmente para fora, ou seja, em direção à orelha correspondente, por conta da fraca oposição do músculo reto médio. O tratamento da exotropia é feito com o uso de lentes corretivas, como óculos de grau e lentes de contato, e exercícios para o fortalecimento dos músculos do olho, porém, a cura só pode ser realizada através de cirurgia.
Mas, retomando, Ariel tem exoforia. Ou desvio divergente latente, um tipo específico de estrabismo caracterizado por um desvio latente em um ou ambos os olhos e este(s) apresenta(m) desvio(s) que tendem para fora, em direção a(s) orelha(s) cujo diagnóstico preciso só é possível após a realização de alguns testes. A escolha do tratamento varia de acordo com o desvio apresentado pelo paciente e vai desde o uso de óculos de grau até cirurgias corretivas, passando por exercícios de ortóptica - uma das técnicas terapêuticas utilizadas para correção de desvios oculares -, realizados por um ortoptista.
Como quem tem estrabismo latente faz um esforço extra para manter os olhos alinhados, já que em situação de desvio há visão dupla, é comum surgir a cefaleia. Os exercícios que Ariel faz são justamente para isso: forçar o olhar a encontrar apenas uma imagem. Para isso, a ortoptista da jovem utiliza o queiroscópio, aparelho semelhante ao popular ‘espelho para cópias’. Através dele, o profissional pode trabalhar a musculatura de apenas um olho, ‘enganando’ o cérebro.
Como todo estrábico apresenta visão dupla é importante salientar que a recuperação estética pode ser alcançada, mas a recuperação visual é muito difícil de alcançar. Somente os desvios latentes e os intermitentes pequenos é que são passíveis de serem auxiliados pelos exercícios ortópticos. Pelo menos com isso, portanto, a jovem Ariel não precisa se estressar...
(Fontes: ABC da Saúde, Jornal Educar, Eótica)