Segundo reportagem de primeira página do jornal O Globo de 21 de janeiro/08, naquela época as geladeiras respondiam pelo impressionante percentual de 22% do gasto residencial com energia elétrica. É sabido que nos lares brasileiros as geladeiras não têm um mesmo padrão de gasto energético, o que implica no fato de que as geladeiras mais econômicas são as mais caras. Num ilógico, mas compreensível contra-senso, as pessoas com menos poder aquisitivo compram as geladeiras que mais consomem energia elétrica, por serem mais baratas. E as pessoas com melhor poder aquisitivo, tem em suas casas geladeiras econômicas!
Dizia a reportagem do jornal O Globo, que se o nosso país investisse R$ 1 bilhão em programas de racionalização de energia, o que não ocorre, o país economizaria R$ 20 bilhões em investimentos em hidrelétricas! Dentro desta realidade, o bom senso diz que é de bom alvitre o governo estabelecer norma que obrigue as fábricas a produzirem um padrão único de geladeiras, em termos de consumo energético, tornando-as o mais econômica possível.
Também seria uma atitude adequada se, ao mesmo tempo, o governo subsidiasse as compras de geladeiras para a população menos favorecida. Com estes procedimentos a economia final dos cofres público seria tamanha, que no decorrer dos anos algumas usinas hidrelétricas não precisariam ser construídas.
Mas, por que então, decorridos alguns anos daquela reportagem-alerta, este enorme absurdo continua solapando a economia do nosso país sem nenhuma reação do governo ou dos brasileiros?
A resposta está em um dos grandes males culturais do nosso país, pois, ao contrário da China e do Japão, não pensamos de forma sistêmica. Por herança cultural nosso pensamento é linear. Tomamos decisões analisando o que está dentro de nossa porteira. Não olhamos para fora. Não enxergamos os diversos mecanismos ou situações complexas que interferem numa isolada decisão.
Mudar esta nossa cultura não é fácil, pois mudança cultural implica em mudança comportamental, que por sua vez implica em mudança de pensamento. Vejamos outro exemplo da ausência do pensamento sistêmico: a Lei 6.383 que trata das terras devolutas do nosso país, é tão absurda em suas exigências que se os órgãos fiscalizadores fizessem uma varredura completa no Estado do Amazonas para fins de regularização, o objetivo seria alcançado depois de 1.372 anos! Onde está a falha? Na ausência do pensamento sistêmico. Alguém em Brasília, utilizando-se do ultrapassado pensamento linear, elaborou rapidamente uma lei, sem enxergar o todo, que seria o correto.
Na atualidade, com a complexidade existente e as mudanças contínuas de demandas, ficarão para trás as instituições, empresas, organizações e governo que não adotarem o pensamento sistêmico. Aliás, assunto este de um livro considerado um dos vinte melhores livros editados a partir da década de 80, A Quinta Disciplina, de Peter Senge (Best Seller). Pensar e agir de forma sistêmica é a alternativa inteligente do bem viver e do bem produzir.
ALKÍNDAR DE OLIVEIRA é consultor de empresas, escritor, palestrante e professor de liderança, oratória, comunicação interna, visão sistêmica, ambiente organizacional e outros temas. Paulista, ministra treinamentos comportamentais para líderes em todo o Brasil. É criador da Metodologia do Diálogo e do Consenso. Site: