Como contei aqui, estou morando em Belo Horizonte por conta de meu novo trabalho, no Google. Como não poderia deixar de ser, certas dificuldades surgem nos lugares mais inesperados.
Inicialmente eu levaria meu cão guia, mijar/cagar na frente do prédio, no meio fio da rua. O problema que a rua é tão inclinada que quando ele faz cocô, ele sai rolando e eu não consigo juntar.
Aliás, esta é uma boa oportunidade para contar como eu faço para juntar o cocô do cachorro. Que merda de texto, mas vamos lá. Obviamente eu não espero ele terminar e fico lá abaixado cheirando o chão procurando pelos dejetos, ainda sou um bípede e me comporto como tal.
Já que não da para levar na frente do prédio, eu vou à rua ao lado que é plana. Chego lá, dou o comando para ele fazer as necessidades. Ele começa a girar, a fazer o ritual do cocô. Ele tem toda uma técnica para conseguir se aliviar. Ele gira, gira, se abaixa e começa a andar. Aí, se eu não seguro o bicho pela coleira bem forte, ele começa a cagar e andar pra mim. Literalmente. O truque é notar quando ele começa a girar, quando ele para por alguns instantes, quer dizer que ele começou. Eu sigo a guia dele, seguro ele pela coleira no pescoço e aponto o meu pé na direção da bunda dele. Quando ele termina, eu deixo ele se mover novamente soltando a coleira. Me abaixo e pego com a sacolinha. Mas esse não é o problema, o problema é jogar a sacolinha no lixo. Juro, essa é a parte difícil.
A lixeira fica na esquina do meu prédio. Por mais que eu treine o meu cachorro para identificá-la, ele tem se recusado a ir até lá. Na cabeça dele só existem dois destinos possíveis quando pisamos naquela calçada. A entrada do prédio ou a entrada da padaria que fica na esquina. E olha que já fiz várias vezes o treinamento de targeting, algo em que ele costuma ser bom, para identificar lugares/objetos. Daí quando vou procurar a lixeira ficamos lá andando para cima e para baixo da calçada com a sacola de cocô na mão e os vizinhos lá na janela provavelmente olhando e pensando: “que horror! ele nem consegue achar a porta de casa”.
Eventualmente, eu desisto de tentar achar a lixeira e peço ao porteiro ou para algum transeunte me mostrar onde ela está. Às vezes eu a acho, mas é por sorte. Para ser justo, provavelmente ele não tem achado porque ela é bem alta e talvez esteja fora do campo de visão dele e porque ao redor tem várias árvores e uma rampa do mal - e ele não quer me levar até lá porque acha que não é seguro.
Mas eu sei que tem como, e como só fizemos duas vezes o treinamento de targeting, acho que em mais uma semana ele vai conseguir achar a lixeira.
LUCAS RADAELLI é natural de Curitiba (PR). Cego desde nascença do olho esquerdo e, desde os 4 anos, do direito também. Estuda ciências da computação na Alemanha. Lucas se define como deficiente visual, nerd, leitor compulsivo e projeto de escritor que gosta de opinar sobre coisas relacionadas a esses e outros assuntos usando o seu ponto de vista, que, segundo seu bom humor, aparentemente é nulo. Blog: lucasradaelli.com