Quem passa pela Serra das Araras, na Rodovia Presidente Dutra, altura do quilômetro 226, ou seja, bem no topo, avista uma construção monumental em forma de obelisco. O acesso, só para veículos, vive fechado com grossa corrente e cadeado. Afinal, o que é aquilo?
“Olhos Curiosos” buscou respostas. E as encontrou no (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural) que há 40 anos dedica-se à preservação do patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro, elaborando estudos, fiscalizando e vistoriando obras, emitindo pareceres técnicos, pesquisando, catalogando e efetuando tombamentos.
Trata-se do “Monumento Rodoviário”, construção que apresenta concepção arquitetônica protomoderna em estilo art déco e que foi inaugurado em 1929, mas sua pedra fundamental foi lançada em maio de 1928, logo após a inauguração da estrada Rio-São Paulo, pelo então presidente Washington Rodrigues.
A construção foi uma iniciativa do Touring Club do Brasil, com o objetivo de perpetuar a nova era representada pelo automóvel e a abertura de estradas. O projeto do engenheiro Mário Chagas Dória e do arquiteto Raphael Galvão foi executado pela Construtora Christiani Nielsen. É composta de dois pavimentos que servem de base a uma torre de 35 metros, perfazendo uma altura total de 46 metros de altura e que ocupa uma área de 54 mil metros quadrados.
Na parte externa, oito baixos-relevos de autoria do escultor francês Freyhoffer narram a evolução dos meios de transporte no Brasil. Para a parte interna, onde funcionava um restaurante, foram encomendados quatro painéis ao pintor Cândido Portinari representando o tema “A construção de uma rodovia”, expressamente incluídos no tombamento deste patrimônio que ainda está em caráter provisório desde 27 de agosto de 1990 – o Monumento foi fechado em 1978. Os painéis de Portinari, medindo 0,96 por 7,68 metros - e os primeiros com tema social e nacionalista do pintor -, também continuam lá, apodrecendo juntamente com toda a estrutura.
O obelisco, é bom frisar, já que é a única parte visível desta obra, durante a noite lançava um facho de luz que partia de seu topo e podia ser visto a longas distâncias, enquanto girava 360º, tal qual um farol no mar.
Em 2010, a Procuradoria Geral da República enviou recomendação à concessionária que administra a Via Dutra, cobrando a restauração do Monumento e até hoje nada foi feito a respeito. O farol continua lá, apagado, abandonado e despertando olhares curiosos.