O prezado leitor tem olhos azuis? A querida leitora também? Pois saiba que, mesmo morando em lugares diferentes, vocês podem ter algo em comum com, digamos, Frank Sinatra. Ou Brad Pitt: o mesmo antepassado! Gostou, né?
Segundo um estudo realizado por cientistas genéticos da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, todas as pessoas com olhos azuis teriam o mesmo antepassado. Para o coordenador da pesquisa, Hans Eidberg, todos os seres humanos tinham olhos castanhos até que uma mutação genética no gene OCA2 desencadeou um processo que literalmente “desligou” a capacidade de produção da cor castanha na íris.
As variações na cor dos olhos - castanhos, verdes e cinzas - podem ser explicadas por quantidades diferentes de melanina na íris, mas a cor azul conta apenas uma pequena quantidade do pigmento. Para os especialistas dinamarqueses, esta alteração na produção da melanina foi uma mutação ocorrida num gene de apenas uma pessoa- e isso há cerca de 10 mil anos atrás.
De acordo com Hans, homens e mulheres com olhos azuis têm praticamente a mesma sequencia genética na parte do DNA responsável pela cor dos olhos. Entretanto, os de olhos castanhos apresentam um grau considerável de variações individuais na área do DNA.
Para o pesquisador, isso indica que “a mutação ocorrida em apenas uma pessoa foi transmitida para todas as outras subsequentes, que têm olhos azuis”. Eiberg e sua equipe examinaram o DNA mitocondrial e compararam a tonalidade ocular de pessoas com olhos azuis em países tão diversos como Jordânia, Dinamarca e Turquia. Os resultados da equipe levaram uma década de pesquisa genética, que começou quando Eiberg implicou pela primeira vez com o gene OCA2 como sendo o mecanismo responsável pela cor de olhos.
O gene OCA2 codifica para a assim chamada Proteína P, que intervém na produção de melanina, o pigmento que dá cor a nosso cabelo, olhos e pele. No entanto, o ‘interruptor’, que está localizado no gene adjacente ao OCA2, não desativa por completo o gene, apenas limita sua ação reduzindo a produção de melanina na íris, "diluindo", por assim dizer, a cor castanha no azul. O efeito do ‘interruptor’ sobre o gene OCA2 é, portanto, muito específico. Se o gene OCA2 tivesse sido destruído ou desativado por completo, os seres humanos careceriam de melanina no cabelo, nos olhos e na pele - um estado que se conhece como albinismo.
Eidberg salientou que, das 800 pessoas analisadas, todas, “com exceção de possivelmente um, tinham exatamente a mesma sequencia de DNA na região do gene OCA2. Para mim, isso indica que 99,5% dos pesquisados têm um único ancestral comum”.
Talvez por isso, pessoas com olhos azuis apresentam valores significativamente mais elevados de IOSL (reação à luz difusora intra-ocular), conforme este outro estudo. Isso significa que quem tem olhos nesta cor pode experimentar incapacidade em situações cotidianas com mais frequência do que outros, como dirigir à noite, por exemplo.
Mas não precisa se preocupar, prezado leitor, querida leitora. A mutação nos olhos não é nem positiva nem negativa. É uma de tantas mutações, tais como as relacionadas com a cor do cabelo, a tendência à calvície prematura, que nem aumentam nem reduzem as probabilidades de sobrevivência de uma pessoa. Como Eiberg assinala, simplesmente mostra que a natureza está sempre removendo o genoma humano, criando coquetéis de cromossomos e pondo a prova as diferentes mudanças que vão surgindo.
(Fonte: BBC Brasil)